17 de junho de 2008

Celebro: Deus conhece a minha fraqueza; Lamento: O diabo também.

Paulo Silvano

No ano de 2003 vivi uma experiência inesquecível. Participei de um retiro, desses que se fazem por ocasião do carnaval, com a presença de mais de 300 irmãos. Para mim, o retiro, fruto da parceria entre a minha igreja – Assembléia de Deus Betesda – e a Igreja Presbiteriana do Brasil de Três Corações - MG, apenas pela parceria (já pensou) foi inédito! (Passado o evento, comentei o acontecido com pastores presbiterianos, colegas do seminário, que indisfarçadamente esboçaram o desconforto, num quase uníssono: – Éé... vejam a que ponto chegaram os presbiterianos!).

Essa não foi única “surpresa”, fiquei boquiaberto quando nas reuniões devocionais, realizadas nos períodos manhã e noite, percebi que naquela mistura de “tradicionais” e pentecostais eu, com os meus quarenta e três anos de caminhada no arraial assembleiano, era na verdade o crente tradicional do encontro.

Vi muitos daqueles irmãos presbiterianos, maioria no acampamento, se cumprimentarem com o pentecostal “A paz do Senhor”. Apequenei-me quando vi jovens “reformados” gritando, de peito aberto e mãos levantadas, os avivados “Aleluia” e “Glória a Deus” que eu pentecostal, contaminado pelos pudores formais, já não retumbo com tanto fervor.
Emocionei-me quando vi o povo doutrinado a partir dos postulados calvinistas orar com tanta convicção a tal ponto que eu, de tradição arminiana, senti-me possuído pelo ciúme de uma coisa que achava “propriedade” da minha confissão: orar para mudar realidades.
Eles cantaram e celebraram Deus com tanto entusiasmo que eu, da caravana pentecostal, fiquei comovido e com vontade de ser renovado.

Contudo, para mim, o melhor estava por acontecer. Numa das ministrações matutinas, proferida por um pastor de outra igreja presbiteriana do sul de Minas, fomos sacudidos a ponto de alguns se escandalizarem com o que ouviram. Da mensagem, cujo texto bíblico e teor não me recordo exatamente, lembro que o referido pastor alertava para o fato que Deus conhece a nossa estrutura e sabe exatamente onde somos mais vulneráveis. Realçou ainda que o diabo também sabe qual é o nosso ponto fraco e que ele, contrariando Deus, que paternalmente nos ajuda nas fraquezas, tenta minar a nossa fé e macular o nosso caráter exatamente a partir do ponto onde a trama do tecido da nossa existência se revela mais frágil.

Para marcar a minha vida e a de muitos que o ouviam, o pastor terminou o sermão exemplificando e fazendo referência a si mesmo: “Eu sei onde reside o meu ponto fraco; eu era homossexual quando converti ao Evangelho e é justamente essa a minha luta hoje; resistir para não ceder e, então, voltar a prática daquele pecado”. (Notei que alguns ouvidos não suportaram a confissão e, ruborizados, deixaram o auditório imediatamente).
Depois de ouvir aquele homem algo mudou na minha vida. Justamente por não ser alvo da mesma investida sofrida por aquele servo de Deus, percebi que ao diabo não importa os tipos de pecados, importa sim a minha vulnerabilidade a pelo menos um deles.

Conferi, o meu drama quanto ao pecado não é diferente do daquele pastor; a nossa odisséia revela que a nossa fragilidade se assemelha em muito a de qualquer mortal. O apostolo Paulo, um exemplo a qualquer tempo, expressa em tom de desabafo o desconforto a que está submetido: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim”.

Só escapamos porque “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

Sola gratia

imagem em seu contexto original: www.opusalegria.com.br/ideias06.html

2 de junho de 2008

Não quero mais ser apenas polemista ou apologista

Paulo Silvano

Descobri que, mesmo convicto de alguns postulados, não quero mais ser apenas polemista ou apologista. A minha alma, como a de qualquer mortal deslumbrado por ter achado tão grande tesouro, abre mão das "verdades" possuídas e das possuidoras e, inebriada pelo vislumbre do mistério da graça de Deus, resigna- se a porfiar em permanecer ao pé da cruz que consumou essa graça, até que, desvendado integralmente o mistério, eu, despido de disfarces e malícia, possa também afirmar que não me glorio "senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”.