27 de novembro de 2008

A angústia nasce da necessidade de escolher

Daniel Munduruku

Penso nisso sempre que me confronto com uma constatação: entre os índios não existe crise existencial. Paro e me pergunto por quê. Constato de novo que entre os povos indígenas não se criam angústias. As crises nascem da angústia. A angústia nasce da necessidade de escolher...Isso vira um círculo vicioso, e o vício torna a vida uma busca insana pela felicidade, que, dizem, se encontra no conforto, na fuga da dor, no consumo.

O consumo, por sua vez, torna as pessoas egoístas e o egoísmo traz a solidão; e a solidão, a tristeza; e a tristeza, a falta de alegria; e a falta de alegria gera a angústia; e a angústia traz a crise, e esta é causada pela falta de rituais que dêem sentido à existência das pessoas.

As pessoas não têm onde se apegar, pois não têm uma tradição, uma ancestralidade.

Daniel é índio da tribo Munduruku no Pará, formado em Filosofia e licenciado em História e Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi aluno do curso de pós-graduação em Antropologia Social, na mesma universidade.

Imagem: Sergio Martínez Sánchez Fechas, na página: umblogquesejaseu.blogspot.com/2008/01/estou-v...

6 comentários:

Maya Felix disse...

Oi, Paulo Silvano, tem um Meme esperando por você lá no Blog!

http://mayafelix.blogspot.com/

Um abraço,

Maya

:)

Maya Felix disse...

Oi, Paulo Silvano, tem um Meme esperando por você lá no Blog!

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Um abraço,

Maya

:)

Anônimo disse...

Obrigado por comentar, agradeço muito mesmo, e parabéns pelo seu blog.

Se você possuir MSN, me adicione para conversarmos:

lekiors@hotmail.com

abraços!

Cristiano Nascimento disse...

Prezado irmão.

Decerto a angústia que assola a maior parte da humanidade tem raízes puramente egocêntricas, pois
o homem sempre se desespera quando percebe que é um ser mortal, frágil, incapaz de conseguir tudo aquilo que poderia propiciar-lhe felicidade plena; a própria felicidade é uma ilusão, posto que é um ideal inalcançável. Essa angústia aumenta ainda mais diante da perspectiva da morte, que é como um algoz que avisa, a cada dia, que o fim está próximo.

Eu porém, acho lícito sentir apenas um tipo de angústia, que acredito ter fundamento bíblico. É aquela angústia que Kierkegaard sentia. Extraí um texto da página 238 do Volume III da História da Filosifa de Giovanni Reale:


Na opinião de Kierkegaard, o contraste entre cristianismo e cristandade estabelecida é claro: "O cristianismo é de uma seriedade tremenda: é nesta vida que se decide a tua eternidade (...). Ser cristão é sê-lo como espírito, é a inquietude mais elevada do espírito, é a impaciência da eternidade, é temor e tremor contínuo, aguçados pelo fato de encontrar-se neste mundo perverso que crucifica o amor e abalado de estremecimento pela prestaçao de contas final, quando o Senhor e Mestre retornará para julgar se os cristãos foram fiéis".

Entretanto, depois de mil e oitocentos anos de cristianismo, "tudo se tornou superficialidade na cristandade atual". E isso porque o cristianismo é visto como instrumento capaz de "facilitar sempre mais a vida, a temporalidade no sentido mais trivial". O que se quer é "viver tranquilo e atravessar o mundo em felicidade": essa é a razão por que "toda a cristandade é disfarce, mas o cristianismo não existe em absoluto". E Kierkegaard se escandaliza diante da realidade - para ele terrível - de que, entre as heresias e os cismas, não se encontra nunca a heresia mais sutil e mais cheia de perigos: a heresia que consiste em "brincar de cristianismo".


Identifiquei-me muito com Kiekeggard. Não há um dia sequer na vida em que eu não sinta uma aflição interior gerada pela consciência de que vivo em um mundo perverso, de que sou um homem vivendo em um corpo de pecado, carente continuamente da graça de Deus. Quando ando pelas ruas e observo os seres humanos andando agitados, absorvidos em interesses mundanos, ávidos pela consquita da felicidade, porém totalmente desapercebidos quanto a seus destinos eternos, eu contemplo a vaidade humana. Isso também gera aflição e meu espírito geme, clamando logo pela redenção.

Na verdade, se nos fosse dada a faculdade de absorver mentalmente toda a essência do verdadeiro cristianismo, não ficaríamos mais tranquilos, nem por um minuto, em razão da reprodução constante da imagem da tragédia humana em nossos espíritos.

Cristiano Nascimento disse...

Fique na paz meu irmão.

Cristiano Santana

http://cristisantana.blogspot.com

Alex Carrari disse...

Penso que Kierkegaard nos deu uma contribuição fundamental para a compreensão do que seja um projeto existencial autêntico. Embora me considere um kierkegaardiano, acho que sua contribuição deve ser elevada a um outro plano, para que dialógue com a complexa condição do homem tanto secular como cristão contemporâneo. O texto postado lança a questão sobre um campo muito mais amplo, seja, não sobre o "conceito de angústia" termo sobre o qual Kierkegaard trabalhou, que mais tarde J.P. Sartre vai discordar, pois para ele a angústia não pode ser em hipótese alguma tratada como um conceito. Kierkegaard trabalhava dentro de uma visão dicotomizada de mundo, assim a angústia se estabelecia num campo conceitual entre a tomada de decisões. No entanto a angústia é inerente a própria condição de existir, sendo que o existir não se estabelece sobre conceitos, antes, o existir é estar no mundo plenamente. A vivência não se dá em termos de vida interior e vida exterior, sendo uma oposta a outra, e sim, numa unidade complexa que interage com o visível e o invisivel arranjando e rearranjando a vida como um projeto nunca pronto.
Assim, a angústia é sempre um estado em que se vive e a partir do qual devo tomar as decisões. Decisões estas, responsáveis ou não, realistas ou fugídias, depende sobre quais balizamentos tomei tais decisões, pois daí advém a fuga para o consumo, o egoísmo, a falta de alegria, etc...

Grande abraço do seu amigo de caminhada mais que pastoral; existencial.

Alex